Palestra do Primaz naGrande Cerimônia de Outubro de 2005
Os meus sinceros agradecimentos a todos os senhores que neste dia, vindos em grande número e de várias localidades, reverenciaram há poucos instantes a Grande Cerimônia de Outubro, em que foi realizada alegre e animadamente o Serviço Sagrado. Agradeço também pelo esforço diário aos trabalhos da dedicação única à salvação e, principalmente nesta época de conclusão das atividades dos 120 anos do Ocultamento Físico de Oyassama, onde estão se empenhando ao máximo na divulgação, na salvação e em convidar as pessoas para o regresso a Jiba. Muito obrigado a todos os senhores. A partir de agora, gostaria de contar com a atenção de todos para poder fazer a minha palestra.
No dia de ontem, foi realizada magnificamente a 24ª Convenção das Moças promovida pela Associação Feminina da Tenrikyo. Desde a 1ª até a 23ª Convenção, veio sendo realizada em Jiba, e pela primeira vez esta convenção está sendo realizada em várias partes do mundo. O motivo está no fato de que no dia 26 de janeiro do ano que vem, será celebrado em Jiba, os 120 anos do Ocultamento Físico de Oyassama. Além disso, como todo o ano de 2006 será considerado como o ano do Decenário e para corresponder ao desejo do Shimbashira-sama de deixar Jiba animado o ano todo é que esta convenção está sendo feita em vários países para incentivar o regresso à terra parental.
Apesar de Jiba estar muito distante do Brasil e das dificuldades econômicas e da disponibilidade de tempo, desejo que um grande número de moças possam fazer o regresso a Jiba. Tornando-se instrumentos de Oyassama, como novos materiais na salvação das pessoas, espero que passem pelo caminho da evolução espiritual.
Como hoje temos a presença de muitas moças fazendo a reverência, gostaria de falar um pouco a respeito de Kokan, a quinta filha de Oyassama, que é o exemplo para as jovens desta fé, tomando exemplos do livro Vida de Oyassama.
Kokan nasceu no dia 15 de dezembro de 1837. No ano seguinte, quando Oyassama se tornou Sacrário de Tsukihi no dia 26 de outubro, Kokan ainda não tinha completado um ano de idade. Como todos devem saber, Oyassama que se tornou Sacrário de Tsukihi, de acordo com a intenção de Deus-Parens, seguiu o caminho para a pobreza. Quando Kokan começou a ter noção das coisas, sentiu a frieza das pessoas da vila em relação à sua mãe e, mesmo querendo um pouco mais de atenção e carinho dela, talvez isso não fosse correspondido ao seu desejo devido ao fato de Oyassama ter-se tornado Sacrário de Deus.
Ao chegar à idade escolar, diferente das meninas de outras famílias, pela condição de sua família não possuir nada, sem dúvida, tenha se sentido triste e solitária. Na época da Revelação Divina, o filho mais velho Shuji estava com 18 anos de idade. Shuji cresceu como o filho do maior proprietário de terras da vila, não passando por nenhuma necessidade material e tendo tudo ao seu alcance. Teve uma infância e uma adolescência dentro de uma família abastada e por isso, como irmão, vendo a caçula Kokan nessa situação, creio que tenha se sentido triste. Assim, ele foi quem sempre cuidou com carinho e atenção da irmã caçula, animando-a nos momentos mais difíceis.
Quando Kokan estava com 17 anos, isto é, em 22 de fevereiro de1853, ocorreu o retornamento do seu pai. No capítulo 3, do livro Vida de Oyassama, tem-se:
“No mesmo ano, apesar da família estar em luto, Kokan partiu para a cidade de Naniwa, atual Osaka, com a missão de difundir o nome de Deus-Parens, conforme a orientação divina, acompanhada de Matakiti da vila de Otsussaka e mais dois homens.
O triste evento da vida humana, que foi o retornamento do pai, coincidiu com o tempo oportuno para a divulgação da fé, marcando um ponto de partida para a salvação do mundo.”
Esse fato ocorreu no outono desse ano. Oyassama enviou a filha Kokan de 17 anos, para a segunda maior cidade do Japão daquela época, depois da capital Edo, atual Tokyo, para divulgar o nome de Deus-Parens, Tenri-Ô-no-Mikoto. Kokan cumpriu obedientemente a ordem da mãe e, atravessando o Passo Jussan, chegou a Osaka, após uma caminhada de aproximadamente 40 quilômetros, e fez a divulgação no centro da cidade.
Provavelmente até esse dia, Kokan nunca tivesse saído da vila de Shoyashiki, porém, seguindo com obediência as palavras da mãe, se dirigiu a um local totalmente desconhecido como Osaka. Observando este fato, percebe-se que mesmo em meio às dificuldades, ela cresceu fazendo a evolução espiritual sem se revoltar com a situação. Ela compreendia perfeitamente a posição de Oyassama como Sacrário de Tsukihi, e a inestimável razão que a sua mãe possuía.
Na Tenrikyo, os membros da Associação dos Moços são chamados de ‘arakitoryo’ ou ‘desbravadores do Caminho’. São os jovens que se dirigem para as regiões ainda inexploradas, ou seja, para locais em que ainda não foi expandido o ensinamento e fazem o missionamento. Dentro da história da Tenrikyo, Kokan, que era uma moça, cumpriu essa missão de missionamento. Tempos depois, Oyassama, através do Ofudessaki, em relação ao yoboku, esclareceu dizendo que não fazia a distinção entre pinheiro macho e fêmea. Certamente, este episódio da Kokan vem a confirmar as suas palavras.
Naquela época, a família Nakayama estava há um passo para se chegar à profunda miséria. Porém, acreditando nas palavras de que chegando ao fundo, tende a subir com força, foi dado início à salvação da humanidade através da prática da divulgação. Creio que haja um profundo significado no fato de que Kokan, uma moça com apenas 17 anos de idade, superando a tristeza da perda do pai, cumpriu essa missão.
Por ter havido esse modelo é que os mestres veteranos no passado e também os atuais seguidores, deixando as próprias conveniências e da família, se dirigiram a locais desconhecidos, superaram as dificuldades, e a oposição e a discriminação das pessoas, passando com firmeza pelo caminho da dedicação única à salvação. O resultado desse esforço pode ser comprovado na imensa graça recebida pelo crescimento do Caminho dos dias atuais.
Passados 15 anos após Oyassama ter sido estabelecida como Sacrário de Tsukihi é que o caminho da salvação da humanidade começou a ser realizada mais ativamente. Foi o primeiro grande passo para que o ensinamento de Deus-Parens saísse da vila de Shoyashiki, na região de Yamato para o mundo. Depois de alguns anos, como se seguisse os passos da caminhada de Kokan, o ensinamento foi se expandindo gradativamente de Kawati para Osaka.
Atualmente, nós também continuamos a levar o nome de Deus-Parens para locais desconhecidos. O Associação dos Moços, através das caravanas de missionamento tem percorrido todo o Brasil. Podem haver pessoas que pensem que essa forma de se fazer o missionamento não traga nenhum retorno, porém ao refletirmos através da vida-modelo, essa atividade é uma maneira de se estar plantando as sementes de dedicação para que no futuro venha a dar belos frutos.
Os 10 anos que se seguiram após 1853, como foi relatado posteriormente pela Oyassama que disse: “não aparecia nem um rato”, foram os anos na mais profunda miséria em que passaram juntamente Shuji e Kokan nessa situação.
No capítulo 3 do livro Vida de Oyassama tem-se:
“Cerca de 10 anos que se seguiram após Oyassama completar 56 anos de idade, foi um período de vida realmente difícil. Tanto Shuji, no auge da vida, como Kokan, no esplendor da juventude, passaram sem um dia sequer digno de seus méritos, obedecendo humildemente à vontade de Oyassama.
‘Era um dia de festa outonal. As moças da vila andavam alegremente, ornamentadas em seus quimonos de festa, mas eu, triste e sozinha, ficava a observar os palanquins que passavam pelas ruas’. Assim, relatou Kokan, tempos depois, relembrando a situação dessa época.
Oyassama que ultrapassava os 60 anos de idade, no meio das dificuldades que se tornavam cada vez mais intensas, executava os trabalhos caseiros de costura, tecelagem e fiação nos intervalos dos trabalhos de salvação, muitas vezes, varando a noite.
‘Como a lua brilha e nos ilumina esta noite!’
Assim, costumava dizer, quando os três, mãe e filhos, fiavam juntos sob o luar. Shuji e Kokan auxiliavam-na e houve dias em que conseguiam tecer, cerca de dois quilogramas.”
Em outro trecho, tem-se:
“Quando Kokan disse: ‘Mamãe, já não há arroz.’ Oyassama explicou-lhe:
‘Neste mundo há pessoas que estão sofrendo apesar de ter alimentos acumulados aos montes à cabeceira, porque não conseguem comer mesmo que queiram, nem passar a água pela garganta. Se pensarmos nisso, estamos muito bem, pois, quando bebemos água, sentimos o gosto da água. Deus-Parens tem-nos abençoado com a sua excelente graça.’
E ainda, encorajou os filhos, dizendo-lhes:
‘Quão ridículo seja, nunca digam que é ridículo. Jamais os deixarei que sejam mendigos.’
Assim, seus filhos que tendiam a esmorecer reanimavam-se e a seguiam.”
Esta festa outonal que é citado no trecho acima é uma comemoração das pessoas da vila pela boa colheita de arroz. Nesse dia, os trabalhadores deixam os afazeres do campo e descansam, fazendo uma festa em torno da divindade da vila. Era um costume onde havia uma união entre fé, tradição e festa e era uma comemoração muito apreciada pelos jovens. Kokan, em plena juventude, não possuía sequer um quimono descente para sair às ruas e, com tristeza, apenas ficava observando as outras garotas se divertirem por detrás de um muro semi-destruído.
No Ossashizu, Indicação Divina de Tempo Oportuno do dia 31 de março de 1896, tem-se:
“Fazendo-lhes deleitar, deleitar com a preleção, Eu lhes conduzi pela longa caminhada. Por 30 anos, não tinham nada para lhes aquecer nas noites frias de inverno. Passaram, ora quebrando e queimando uns galhos dali, ora juntando folhas daqui. Saibam que não existe mentira na preleção de Deus. Vejam, as pessoas virão de lá e de cá.”
Ao retroceder 30 anos desde 1896, chega-se exatamente na época em que Oyassama, Shuji e Kokan estavam passando pela mais profunda pobreza. Em 1896, foi celebrado magnificamente os 10 anos do Ocultamento Físico de Oyassama e, nessa ocasião, fiéis de todo o Japão regressaram em grande número à Jiba. Porém, a origem desse crescimento está no fato de ter havido a caminhada de Oyassama pela pobreza e o resultado disso foi mostrado nesse Decenário. Assim, esse Ossashizu está explicando que não se pode esquecer esta passagem da vida de Oyassama, estabelecê-la no coração e se dedicar unicamente à salvação das pessoas. Em outro Ossashizu, do dia 26 de agosto de 1898 tem-se:
“Existe a razão dos 10 anos. Nestes 10 anos não havia quem os visitasse. Se tinham algum motivo, vinham. Caso contrário, não vinham. Alguns poucos, mesmo assim, não vinham se não tinham motivo.”
Este Ossashizu explica a situação durante os 10 anos que se seguiram após 1853. Isto é, até 1863, foi um período em que não houve sequer o aparecimento de algum seguidor da fé. Apesar de que durante os 10 anos não tivesse aparecido ninguém, para Shuji e Kokan que passaram esse período juntamente com Oyassama, este Ossashizu explica que existe a razão e a dedicação que foram acumuladas durante esse tempo.
Em uma explanação posterior da própria Kokan, tem-se:
“Ao acordar pela manhã, não tínhamos arroz para cozinhar, na hora do almoço não tínhamos arroz para comer e à noite, não havia óleo para as lamparinas. Eu e a minha mãe, nas noites de luar, passávamos toda a noite fazendo trabalhos de fiação e com a venda dos novelos, conseguíamos fazer papa de arroz para comer. Essa situação se repetiu por várias vezes.”
Este foi a declaração de Kokan.
Certo dia, quando Kokan disse que não havia mais arroz para cozinhar, Oyassama respondeu:
“Ao bebermos água, sentimos o gosto da água. Deus-Parens tem-nos abençoado com a sua excelente graça.”
Podemos imaginar o quanto Kokan tenha ficado encorajada e animada com estas palavras de sua mãe. Não significa que Kokan estava triste porque sentia fome, mas a tristeza estava no fato de que não tinha o que cozinhar e dar para a idosa mãe e para o irmão Shuji.
Por ter havido este modelo de vida na longa caminhada na pobreza é que os nossos mestres precursores, quando estavam em pleno missionamento, puderam superar e suportar todas e quaisquer dificuldades e sofrimentos. Além disso, os mestres que vieram ao Brasil, mesmo com as diferenças de clima, costumes, cultura e língua, a mudança brusca de vida, e o árduo trabalho de desmatamento e plantio puderam ser superados por animarem-se uns aos outros. Devido a essa dedicação é que foram estabelecidas as bases do caminho da fé no Brasil.
Em 1864, quando Kokan estava com 27 anos de idade, Izo Iburi, posteriormente Honseki, veio pela primeira vez à Residência para reverenciar, solicitando a salvação da esposa por causa de complicações pós-parto. Na Vida de Oyassama está escrito o seguinte:
“Então, Kokan fez um pedido de salvação dentro de três dias e deu-lhe um san-yaku.” No ano seguinte, tem-se:
“Nessa época, Kokan já transmitia a vontade de Deus-Parens atendendo às numerosas consultas.”
Como se pode perceber, Deus-Parens também estava se introduzindo em Kokan e, no lugar de Oyassama, ela estava transmitindo a intenção divina para as pessoas. Posteriormente, isso foi esclarecido através do Ossashizu da noite do dia 26 de agosto de 1898 que diz: “Digo Kokan, a jovem deusa.”
Com o aumento das pessoas que passaram a reverenciar e a seguir Oyassama considerando-a a deusa-viva de Shoyashiki, os sacerdotes, os monges, os bonzos e os médicos da redondeza passaram a perseguir e a insultá-la, vindo frequentemente à Residência para discussões e agressões. Nessas situações, era Kokan quem atendia as pessoas.
No capítulo 4, da Vida de Oyassama tem-se:
“No crepúsculo de um certo dia de junho de 1865, dois bonzos invadiram a Residência, indagando: ‘Por que nem acendem as lamparinas ao entardecer quando evocam o nome divino, Tenri-Ô-no-Mikoto?’
Kokan foi recepcioná-los, quando se aproximaram grosseiramente e, em ambos os lados dela, cravaram ameaçadoramente no soalho suas espadas, lançando questões difíceis. Izo Iburi que estava no quarto vizinho de seis tatames, permaneceu apreensivo ouvindo a discussão e pronto para intervir em caso de emergência.
Contudo, Kokan manteve-se absolutamente tranqüila e transmitiu a doutrina minuciosa e pacientemente. Os bonzos encurralados em suas razões e enraivecidos, dilaceraram os tatames e romperam o bombo, cortando-os violentamente, e revolvendo furiosamente o recinto, foram-se.”
Kokan enfrentou corajosamente os bonzos, mesmo sendo ameaçada pela violência das espadas. Além disso, explanou paciente e com clareza a razão dos ensinamentos.
Nessa época, quando Oyassama foi fazer a salvação nas vilas de Mamekoshi e Wakai, Kokan também a acompanhou. Os primeiros seguidores deste Caminho, tinham muito respeito e consideração por Kokan, chamando-a de “jovem deusa”. Com o avançar da idade de Oyassama, foi aumentando cada vez mais a responsabilidade de Kokan.
A intenção de Deus-Parens era fazer com que Kokan trabalhasse ajudando Oyassama na salvação, chamando-a até de “jovem deusa”. Isso pode ser claramente visto no seguinte verso do Ofudessaki:
Se as duas pessoas tomadas como sacrários por Tsukihi
forem postas em quartos separados... Of. IX-5
Significa que se Oyassama e Kokan forem colocadas em quartos diferentes, as duas irão trabalhar simultaneamente fazendo qualquer salvação. As duas pessoas se referem ao Sacrário de Tsukihi que é Oyassama e à pessoa que irá ajudá-la que é Kokan. Sacrário de Tsukihi é somente Oyassama.
Prosseguindo no Ofudessaki tem-se:
Mesmo as explanações, se as disser do mesmo lugar,
todos poderão julgar como se fossem do espírito humano. Of. XI-19
Compadeço-me do espírito de todos que assim julga e,
desta vez, explanarei mudando de lugar. Of. XI-20
Significa que ‘mesmo dizendo que são explanações de Deus-Parens, somente ouvindo através de Oyassama, as pessoas pensam que em seu conteúdo possa haver algo do pensamento humano. Por Deus sentir-se penalizado por esse tipo de pensamento dos homens, mudando de pessoa, isto é, através de Kokan, vai passar a fazer a explanação. Deste modo, Kokan não era apenas uma simples pessoa, mas tinha sido encarregada de uma grande e importante missão por parte de Deus-Parens.
Porém, em 18 de junho de 1872, ocorreu o repentino retornamento da irmã mais de velha de Kokan, chamada Oharu Kajimoto da vila de Itinomoto. Ela retornou um dia depois de ter dado à luz ao seu quinto filho, Narajiro. Para Kokan também foi um fato inesperado e um acontecimento de significativa importância. Nessa época Kokan estava com 36 anos de idade.
Na família Kajimoto, o filho mais velho estava com 15 anos e o quinto filho tinha acabado de nascer. De repente, as cinco crianças ficaram sem mãe, e a família estava tendo muitas dificuldades para cuidá-las e também estavam tendo problemas com os afazeres domésticos. Assim, a família solicitou para que Kokan viesse como a futura mãe e esposa dos Kajimoto.
Nessa época, como um pensamento comum da sociedade, quando a irmã mais velha falecia, se caso a irmã mais nova fosse solteira, era costume ela ir de casamento no lugar da irmã mais velha. A começar do irmão Shuji e demais pessoas próximas, todos acharam uma boa idéia e incentivaram a ida de Kokan.
Entretanto, de acordo a intenção de Deus-Parens, não houve a permissão de Oyassama. Isso porque Kokan era uma pessoa que tinha uma profunda predestinação com Jiba, devendo permanecer para sempre nesse lugar e, juntamente com Oyassama trabalhar no caminho da dedicação única à salvação. Esta era a intenção de Deus-Parens. Sobre isso, tem-se no Ofudessaki:
Tsukihi diz que se encarregará porque
existe a predestinação original. Of. XI-29
Quanto a esta predestinação, foi um instrumento
original da criação dos seres humanos. Of. XI-30
O início deste mundo foi em Yamato, na Aldeia de Shoyashiki
do Distrito de Yamabe. Of. XI-69
Nesse local, na residência dos Nakayama, avistam-se os
instrumentos com que criei os seres humanos. Of. XI-70
Estes instrumentos são Izanagui e Izanami e também
Kunissazuti e Tsukiyomi. Of. XI-71
Tendo-as verificado, Tsukihi desceu do céu e
faz preparos para instruir-lhes todas as coisas. Of. XI-72
Estes versos explicam que quando Deus-Parens iniciou a criação dos seres humanos, usou vários instrumentos e as pessoas que possuem essa alma predestinada são: o marido Zembee é Izanagui, Oyassama é Izanami, Kokan é Kunissazuti e Shuji é Tsukiyomi.
Oyassama não permitiu que Kokan fosse de casamento para a família Kajimoto, no lugar da irmã, porém como havia um bebê recém-nascido, deixou-a ir somente para cuidar da criança.
Com o tempo, passou a ir freqüentemente de Jiba para ajudar e a cuidar das crianças. Elas se apegaram muito à tia, e logicamente, as pessoas próximas, vendo que Kokan continuava solteira e já estava com 36 anos, sugeriram que ela se casasse. Isso porque sabiam que Kokan, desde que nasceu, teve uma vida difícil, e mesmo agora, continuava se dedicando ao lado de Oyassama. Por isso, desejavam que com o casamento, ela pudesse a ter uma vida normal como esposa. Kokan também passou a ficar envolvida com as crianças e os dias em que permanecia na casa dos Kajimoto começaram a aumentar.
Sobre a situação que teve que passar, posteriormente, foi explanado através do seguinte Ossashizu do dia 26 de agosto de 1898:
“Digo jovem Kokan. Durante dez anos. Como explanar sobre as dificuldades e os sofrimentos que suportou. Foi assim e foi dessa maneira. Envolveu-se em uma situação inevitável. Por um momento pareceu que poderia se livrar, mas surgiram circunstâncias incontroláveis. Poderia ter tido uma vida confortável, mas por causa deste Caminho, por vezes fiz passar por sofrimentos, dificuldades, carências e adversidades.”
Por volta de junho de 1875, Kokan recebeu uma orientação física e aumentaram os dias em que ficava na cama.
Sobre os fatos ocorridos nessa época, no capítulo 6 da Vida de Oyassama está escrito:
“Mais ou menos no verão de 1875, Kokan, que passou longos anos por dificuldades e sacrifícios com Oyassama, veio a sofrer de um incômodo físico e seu estado foi-se tornando cada vez mais grave.
Tsukihi diz que se encarregará porque
existe a predestinação original. Of. XI-29
Quanto a esta predestinação, foi um instrumento
original da criação dos seres humanos. Of. XI-30
Deus-Parens desejava fazer Kokan consagrar-se ao caminho da devoção única a Deus, mantendo-a para sempre na residência original, em virtude da predestinação de sua alma. Porém, vista pelas pessoas, era apenas uma mulher e não era sem razão que a aconselhassem a casar-se. Kokan sofreu, então, entre a intenção divina e o sentimento humano.
Na primeira metade da parte XI, tendo como exemplo o incômodo físico de Kokan, está explicado repetidas vezes que se deve passar inteiramente amparado em Deus-Parens, seguindo sinceramente as palavras divinas, sem ser levado pelas cogitações humanas.”
No Ofudessaki, tem-se:
Deve ser penoso o sofrimento atual.
Pense no prazer que virá posteriormente. Of. IX-36
Prevenindo ao máximo, tenho informado com
antecedência. Procurem refletir. Of. IX-37
Estes versos se referem à doença de Kokan. Isto é, ‘Deus-Parens veio avisando repetidamente que não era para ir. A doença deve estar causando muito sofrimento, por isso ouça os dizeres de Deus-Parens. Se assim o fizer, depois haverá prazer.’
Kokan estava cuidando de sua enfermidade na casa dos Kajimoto, porém como o seu estado se agravou, percebeu então a intenção de Deus-Parens e refletiu que nada poderia ser feito ou mudado com o pensamento humano. Mesmo com dificuldades voltou para perto de Oyassama.
Porém, no dia 26 de agosto de 1875, devido a intimação recebida por causa da construção da Casa-Portão, ela tinha sido chamada a Sede do Governo da Província de Nara. Ficou presa durante três dias no presídio de Nara e na sua ausência, no dia 28 de agosto, Kokan retornou com apenas 39 anos de idade. Infelizmente, não pôde se encontrar com Oyassama.
Oyassama, que estava detida, recebeu uma licença especial e regressou à Residência. Aproximou-se ao corpo gelado de Kokan, acariciou-a e agradeceu pelos seus trabalhos e sacrifícios passados por longo tempo, dizendo:
“Coitada! Que volte logo.”
Depois, ela continuou dizendo, como se estivesse conversando:
“Você não vai a nenhum lugar. É como a pele de uma cigarra, a sua alma permanecerá nesta Residência. Você irá renascer novamente neste lugar.” Essas foram as carinhosas palavras de Oyassama.
Aos homens que são facilmente influenciados pelo lado emocional, que possuem cogitações e preocupações, Deus-Parens fez com que a inestimável Kokan passasse por esse tipo de Caminho para mostrar claramente a importância da verdade da dedicação única a Deus. Creio que tomou-a para se tornar a ‘base da explanação’.
Este é um grande e valioso exemplo mostrado para nós, seguidores deste Caminho, onde nos é ensinado a maneira de se fazer a reflexão e o rumo correto a seguir, escolhendo o caminho da verdade da dedicação única a Deus e não o mundo dos sentimentos e cogitações humanas.
No decorrer de nossa vida, nos deparamos muitas vezes entre escolher a devoção única a Deus ou a cogitação humana, entretanto analisando este exemplo, podemos entender perfeitamente que em todos os momentos, devemos escolher sempre o caminho da devoção única a Deus.
No livro Episódios da Vida de Oyassama, n° 43, está registrado os fatos ocorridos na ocasião do retornamento de Kokan. As pessoas da vila de Shoyashiki tinham sido tratadas com especial atenção por parte dela e por isso muita gente veio para ajudar nos preparativos do funeral.
Assim, para poder retribuir à gratidão de Kokan, os fiéis decidiram formar a primeira irmandade da história da Tenrikyo que se chamou Irmandade Tenguen. Oyassama ficou extremamente alegre e satisfeita com a decisão e concedeu como símbolo divino da irmandade o sobretudo do quimono vermelho que estava vestindo naquele momento. Passaram dessa maneira a fazer o Serviço mensal.
A Irmandade Tenguen se tornou igreja em 1925 e, atualmente está localizada na vila de Itinomoto, em Tenri, com um grande recinto de reverência e possui dez igrejas filiais.
No sexto verso do Hino IV do Mikagura-Uta tem-se:
Desejo salvar depressa os da vizinhança,
entretanto, não entendem o meu espírito. Mik. IV-6
E, no Ofudessaki, parte IV, verso 78 tem-se:
Apressa-se mais a salvação dos da vizinhança.
Reflitam logo sobre isso. Of. IV-78
Significa que mesmo morando perto de Oyassama, não compreendiam facilmente a intenção do Parens e não levavam em consideração o desejo divino. Porém, os vizinhos, tendo como um fato significativo o retornamento de Kokan, decidiram se unir e receberam a graça de formar uma irmandade.
Foi ensinado que Kokan renasceu como sendo a filha mais velha do Shimbashira I, e foi chamada Tamatiyo. Sendo a irmã mais velha do Shimbashira II, ela formou um outro ramo da família Nakayama e o reverendo Tamenobu Yamazawa foi adotado e casou-se com ela. O filho mais velho da senhora Tamatiyo foi o reverendo Massanobu Nakayama que se casou com a filha mais velha do Shimbashira II, chamada Moto. Ainda hoje, a senhora Moto continua fazendo os trabalhos da Sede da Igreja.
Na ocasião do culto de 1 ano de retornamento do reverendo Chujiro Otake, primeiro primaz do Brasil, foi publicado um livro de memórias chamado Aramiti Kaitaku. Como o reverendo Massanobu tinha retornado, foi pedido para a sua esposa Moto escrever algo sobre o primaz. Recebemos uma mensagem bonita e escrita com muita emoção e, em um trecho, ela falava sobre a sua mãe Tamatiyo. Vou ler esse trecho:
“Depois que minha mãe voltou do Brasil, certo dia ela comentou: se me perguntarem em que lugar gostaria de ir fazer o missionamento, responderia que iria novamente ao Brasil. ”
Ao ver essa resposta, senti que era realmente a pessoa com a alma renascida de Kokan. Isso porque, naquela época, foi Kokan quem saiu do interior de Yamato, passou pelo monte Ikoma e foi para a cidade de Naniwa propagar pela primeira vez o nome de Deus-Parens. A pessoa que renasceu com a predestinação dessa alma é que disse que gostaria de vir ao Brasil, o país mais distante de Jiba, para fazer a divulgação.
Todos nós, tendo sido atraídos por Deus, estamos fazendo a divulgação no Brasil. Assim, espero que se orgulhem desse fato e que todos os senhores se empenhem ao máximo na divulgação e salvação para poder contentar Oyassama.
Este ano está fazendo exatamente 130 anos do retornamento de Kokan. Um ano expressivo em que em várias localidades, está sendo realizada a convenção das moças. Creio que isso seja de um profundo significado. No início da história do Caminho, Kokan foi quem dedicou a inestimável sinceridade na Residência. Por isso, estudando e aprendendo através de seu exemplo, e fazendo deste a força motriz, desejo que todos se animem e se esforcem ao máximo para prosseguir por este Caminho.
Faltam somente três meses para os 120 anos do Ocultamento Físico de Oyassama. Vamos convidar um maior número de pessoas para regressarem a Jiba no ano que vem e contentar Oyassama. Para isso, juntamente com todos, vamos trabalhar ativamente na conclusão das atividades do Decenário.
Assim, termino a minha explanação.
Muito obrigado.