2008.10_Minoru Egami

Reverendo Jorge Minoru Egami (Igreja Tucuruvi)

Como todos sabemos, a cerimônia que acabamos de realizar, no dia de hoje, é conhecida como a Grande Cerimônia de Outono, e possui um significado muito especial para todos nós, pois ela nos remete ao dia original em que Deus-Parens se revelou ao mundo, e ela nos lembra o início da longa jornada de sacrifícios que Oyassama efetuou para a salvação de toda a humanidade.

Então hoje é um dia de muitas reflexões, mas podemos dizer também que hoje é um dia de muita alegria, pois nos é ensinado que nessas cerimônias é que temos a oportunidade de consagrar diante de Deus-Parens, todo nosso sentimento de gratidão, pela vida que temos, pelo corpo que recebemos, pela graça de podermos dispor dos nossos sentidos e movimentar livremente todos os nossos membros.

Assim, fazendo uso de todas essas faculdades que nos foram concedidas, tocamos os instrumentos musicais, cantamos os hinos sagrados, e executamos essa dança que é chamada de Teodori, ou a Dança das Mãos.

Às vezes, quando observo a execução do Teodori, como aconteceu no dia de hoje, eu me pergunto: Por que será que Oyassama chamou essa dança de dança das mãos? Ou seja, por que motivo nós expressamos a nossa gratidão usando as nossas mãos?

Certamente, devem existir muitas respostas para essas perguntas, mas acredito que um dos motivos é que a nossa mão é um dos instrumentos mais importantes que recebemos de Deus, e que nos distinguem como seres humanos.

E dizem que o ser humano se diferencia dos demais animais, justamente pelas obras e pelo trabalho que consegue produzir, utilizando as suas mãos.

E além das infinitas obras que podemos produzir, podemos encontrar nas nossas mãos muita simbologia, ou seja, as nossas mãos possuem muitos significados e nos transmitem muitas lições.

E sempre que vejo a minha mão, me lembro de um professor, um mestre do caminho, que conheci na Terra Parental, no alojamento da nossa Igreja-Mor.

Eu me lembro que ele dizia a seus alunos que, na nossa mão, podemos encontrar a síntese, o resumo e a representação da relação que existe entre Deus e os seres humanos. Ele dizia que este dedo, que chamamos de dedo Polegar, representa Deus-Parens e Oyassama. E os demais dedos que temos na mão representam os seres humanos.

Oyassama nos ensinou que todos os seres humanos possuem espíritos diferentes. E esses dedos, também, têm tamanhos diferentes, forças diferentes, e ocupam posições diferentes na mão. E por isso, muitas vezes, eles têm dificuldade de se entenderem, de se tocarem e de se harmonizarem.

Porém, essa dificuldade não existe diante do Polegar. O Polegar consegue tocar, com a maior facilidade, sem qualquer dificuldade, qualquer um dos dedos da mão, pois ele representa Deus e Oyassama. E diante de Deus e Oyassama, todos os seres humanos são filhos queridos e amados, não existe qualquer distinção entre eles.

E podemos tentar afastar o dedo Polegar dos demais dedos da mão. Porém por mais que afastemos este dedo, ele é sempre alcançado pelos outros dedos. E isso acontece porque este dedo reflete a natureza de Deus-Parens, que nunca abandona seus filhos, que sempre está disposto a perdoar as suas ofensas e ingratidão e está sempre à disposição para ouvir, proteger e amparar a todos eles.

Assim, quando tentamos afastar o Polegar, ele é sempre alcançado pelos outros dedos. Porém, quando afastamos esses dedos do Polegar, o Polegar não consegue mais alcançar qualquer um deles. Ou seja, por mais que tentemos, o Polegar nunca conseguirá tocar os outros dedos, se estes dedos permanecerem distendidos, esticados, com a cabeça voltada para cima.

Assim, a nossa mão, através desses dedos, nos mostra que Deus-Parens está sempre presente em na nossa vida, no nosso corpo e está sempre ao nosso lado, nos iluminando com sua graça e suas providências. Porém, para podermos alcançá-lo, perceber a sua presença, precisamos inclinar a nossa cabeça, e com muita humildade, procurar entender e praticar os ensinamentos que nos foram transmitidos.

E esse movimento que executamos, na medida em que reformamos e limpamos nosso espírito, aceitando a verdade da coisa emprestada e tomada emprestada, firmando a convicção de que todos nos somos irmãos, pela prática do hinokishin e da salvação, enfim, esse movimento que efetuamos para aproximarmos cada vez mais de Deus é que nos conhecemos como o processo de maturação e evolução espiritual.

Mas, além desse exemplo, na nossa mão, temos diversos dedos e podemos encontrar em cada um deles uma mensagem e uma lição.

Esse dedo, por exemplo, é conhecido como dedo indicador, porque com ele nós podemos apontar para um objeto, indicando sua localização. Podemos apontar para uma pessoa, indicando seus defeitos e suas virtudes. Podemos apontar para uma direção, indicando um caminho a ser seguido.

Então, este dedo possui muito poder e muita força. Mas essa força e esse poder não nascem dele, mas são concedidos pelos demais dedos que temos na mão.

E quando apontamos para algum objeto, toda a atenção das pessoas se concentra neste dedo.

Porém, na realidade, isso acontece porque este dedo está contando com a ajuda de todos os demais dedos da mão, que estão se recolhendo, se anulando, se sacrificando, para que um único dedo possa cumprir da maneira mais eficiente essa função de apontar para alguma coisa.

Assim, este dedo nos mostra o valor da solidariedade e a importância da ajuda mútua, e nos ensina que sempre quando conseguimos executar bem um trabalho ou uma tarefa, isso acontece porque estamos recebendo a ajuda de outras pessoas, que estão nos auxiliando, nos apoiando e nos dando o suporte necessário.

E temos também este dedo que é conhecido como dedo mediano, porque ele se situa no meio da nossa mão, dividindo-a de maneira igual, deixando dois dedos de um lado e outros dois do outro lado.

Estar no meio significa estar à mesma distância das duas extremidades. E quem está no meio não é dado a atitudes extremadas, ele não se entrega aos excessos e aos exageros. Esse dedo representa, portanto, a razão, o equilíbrio e a ponderação. E é através dessas qualidades que cultivamos nosso espírito de moderação.

E é através da moderação que nós controlamos a nossa ira e os nossos impulsos, seguramos a nossa ambição e o nosso orgulho, que fazem com que as poeiras espirituais se acumulem no nosso espírito.

E temos também esse dedo que chamamos de dedo anular ou dedo anelar. Ele recebe esse nome porque é nesse dedo que colocamos um anel. O anel é um objeto circular, não tem começo nem fim, e por isso é considerado o símbolo da eternidade. E numa cerimônia de casamento, tomamos dois anéis idênticos, feitos do mesmo material e colocamos um deles no dedo da noiva, e outro no dedo do noivo. E por que fazemos isso?

Dizem que fazemos isso porque desde a antiguidade, as pessoas acreditavam que este dedo, através de uma veia, estava ligado diretamente ao nosso coração. E o nosso coração era considerado a sede, a matriz e a fonte de todos os nossos sentimentos e das nossas emoções.

Então, quando colocamos dois anéis idênticos nestes dedos dos noivos, este gesto simboliza o nosso desejo de que os noivos, na condição de marido e mulher, sempre vivam juntos, sempre unidos pelos mesmos sentimentos e pelas mesmas emoções.

Então esse dedo representa as nossas emoções e os nossos sentimentos. E é através de sentimentos como amor, amizade e solidariedade é que nós nos unimos aos nossos semelhantes. E é através de sentimentos como admiração, respeito e gratidão que nos mantemos unidos a Deus e Oyassama e a este Caminho.

Usando as nossas mãos, podemos fazer e obter muitas coisas, mas esse dedo nos lembra que tudo que fazemos ou obtemos, não deve ser destinado apenas para o nosso benefício próprio, mas, ele deve ser usado para a felicidade das pessoas que amamos, das pessoas com quem convivemos neste mundo, e para o bem deste Caminho, para podermos contentar Deus e Oyassama.

E temos ainda este dedo que chamamos de dedo Mindinho. Ele recebe esse nome porque é o mais fraco, mais curto e o menor de todos os dedos que temos na mão. Mas apesar de seu pequeno tamanho, ele traz uma imensa lição, um grande ensinamento.

Muitas vezes, na nossa vida encontramos momentos em que precisamos segurar, com toda força, algo que não podemos perder, não podemos largar. Nesses momentos, encontramos este dedo ao lado de outros, oferecendo a sua força. Em outras ocasiões, precisamos abrir a mão, juntar os dedos, para podermos receber a maior quantidade possível de algo de que necessitamos. E nessa situação também, ele está presente, ao lado dos outros dedos.

Então, este dedo não usa seu pequeno tamanho ou a sua reduzida força, como pretexto ou desculpa, para deixar de cumprir a sua obrigação.

Ou seja, esse dedo não pergunta se sua ajuda é pequena ou grande, não questiona se sua colaboração é boa ou ruim, ele apenas procura oferecer o melhor de si, para cumprir da melhor maneira possível a função que lhe cabe na mão. E essa capacidade, essa atitude de dar o máximo que possui, oferecer o melhor daquilo que pode fazer, em qualquer circunstância, é que chamamos de Sinceridade Verdadeira.

Ser pequeno, ser fraco, ser minoria, é algo que nos incomoda e, muitas vezes, nos causa desânimo. Muitas vezes, olhamos para o extenso caminho que se estende diante de nós, e percebemos o quão curtos são os nossos passos, o quão pequenas são as nossas forças e nossa capacidade. Então nós nos perguntamos: Por que seguir esse caminho, se nunca vamos chegar ao destino? Por que fazer essa caminhada, se nunca vamos atingir nossos objetivos?

Mas um caminho existe somente porque existe alguém que passe por ele. Um caminho jamais deixará de ter o seu sentido de existência enquanto alguém esteja transitando, passando por ele.

Oyassama enfrentou muitos sacrifícios e privações, e nos deixou esse caminho construido com seu suor e lágrimas, ao longo de toda sua Vida Modelo. E Ela nos diz que não é necessária a Vida Modelo se ninguém se dispuser a segui-la. Ela nos diz que mesmo querendo não poderá sair se não existir caminho.

Então, por menor que seja nossa passada, por menor que seja nossa capacidade, devemos sempre seguir esse caminho, para que ele jamais perca o seu sentido de existência, para que ele jamais desapareça, para que nunca percamos o contato com Oyassama. E caminhar é nossa função, nossa obrigação, a nossa missão.

E dessa forma, podemos dizer que cada dedo da nossa mão tem mensagens diferentes, porque todos eles são diferentes, possuem características diferentes.

Mas apesar de possuírem características diferentes, todos eles pertencem a uma mesma mão, todos eles trabalham para uma mesma finalidade, para um mesmo objetivo, e é isso que define e caracteriza aquilo que nós chamamos de União Espiritual.

A União Espiritual não é apenas um agrupamentos de pessoas diferentes tentando fazer a mesma coisa.

A União Espiritual é a integração de pessoas em torno de um mesmo objetivo, cada qual exercendo funções diferentes, de acordo com as qualidades que lhe foram dadas por Deus, cada qual procurando dar o melhor de si não somente para cumprir a sua função, mas também ajudando os outros a cumprir a parte que cabe a eles.

Gostaria de pedir desculpas por ter estendido demais essa conversa. Mas na realidade, o que queria dizer com tudo isso, era apenas uma única coisa: Neste dia de Grande Festa Mensal, em que relembramos a vida de sacrifício de Oyassama, vamos todos reafirmar a nossa disposição de darmos as mãos, e unidos nesse sentimento de União Espiritual, vamos dar o melhor de nós, para prosseguir a nossa caminhada em direção ao principal objetivo de todos nós que são as comemoração dos sessenta anos desta Dendotyo do Brasil, que irão ocorrer daqui a três anos.

Então gostaria de terminar, agradecendo a atenção prestada. Muito obrigado a todos.