Miyamori_ 2009.08

Curso de Condutores e Esposas de Condutores de Igrejas e Casas de Divulgação

Se não me falha a memória, foi no início deste ano que o Primaz, Rev. Murata, me falou: “Em agosto teremos no Dendotyo do Brasil o Curso para Condutores e Esposas de Condutores de Igrejas e Casas de Divulgação. Gostaria que fizesse uma palestra nesse curso”. Estava hesitando em dar a resposta, quando ele completou: “Como chefe do Departamento de Missões Exteriores, de vez em quando deve vir a Brasil servir ao Caminho.” Como senti um tom de ameaça no ar, resolvi aceitar e estou hoje aqui, diante dos senhores.

Quando aceitei dizendo que viria, pensei que teria muito tempo pela frente ainda, mas o tempo passa rápido e o dia chegou num piscar de olhos.

Apesar de não estar à altura de tamanha incumbência, gostaria de contar com a atenção dos senhores por alguns instantes.

A partir do início deste ano, tendo o México como origem, a nova gripe A (H1N1) começou a se espalhar rapidamente pelo mundo. A explicação sobre a rota de infecção ainda não está totalmente clara, mas entre março e abril, muitos moradores de uma cidade do estado de Vera Cruz, no Oeste do México, apresentaram sintomas de gripe e existe a teoria de que ela foi se expandindo a partir daí, mas não se tem essa certeza.

Milhares de pessoas de diversas partes do mundo regressam a Jiba com saudades do Parens. Estou na posição de responsável pelo Departamento de Missões Exteriores e pensava que se algum visitante do exterior trouxesse a nova gripe, seria um grande problema. Ou se alguém que viesse do exterior se infectasse com a nova gripe em Jiba, isso também seria um grande problema. Principalmente porque os japoneses de hoje costumam criar uma grande confusão por pequenas coisas. Se fosse noticiado nos jornais e na televisão sobre a “nova gripe na sede da igreja Tenrikyo”, havia a possibilidade de causar transtorno a muitas pessoas.

Em julho e agosto, costumamos ter em Jiba diversas atividades. A primeira delas é o Seminário de Oyassato. Depois, temos o Regresso das Crianças a Jiba e o Seminário Estudantil.

Este ano, tivemos em julho a realização do Seminário de Oyassato em inglês, chinês, espanhol e português. Tivemos participantes de igrejas filiadas ao Dendotyo do Brasil também. Ainda, em agosto está sendo realizado o Seminário em coreano. Se por acaso surgisse algum caso de gripe no Seminário de Oyassato em julho, isso teria uma grande influência nas atividades subsequentes. Não parava de pensar nisso. Como faríamos se algum participante do Regresso das Crianças a Jiba se infectasse? Ficava pensando em como se justificar perante a sociedade se aparecesse algum paciente da nova gripe, como explicar a situação para as pessoas do Caminho.

Depois de consultar os chefes de seção do Departamento de Missões Exteriores, resolvemos mudar o alojamento do Seminário para o 38º Moya, um alojamento de primeira linha, ao invés das salas de aula do Instituto de Línguas da Tenrikyo. Isso para que não dissessem que “houve contágio da nova gripe porque utilizaram como alojamento um local não adequado para esse fim”. Ainda, resolvemos diminuir o tempo de curso para que não coincidisse com o período de realização do Regresso das Crianças a Jiba. Tudo para poder se justificar perante a imprensa caso surgisse algum caso da nova gripe.

No entanto, se surgisse algum caso, na verdade seria melhor passar firmemente apoiados em Deus. Como chefe do Departamento de Missões Exteriores, estou na posição de orientar sobre o “espírito de dedicação única a Deus”. Como condutor de igreja, estou na posição de orientar os fiéis da minha igreja sobre “as livres providências de Deus-Parens”.

Apesar de não ter jeito, será que o pensamento preocupado com os olhos da sociedade, as decisões tomadas tendo como base o senso comum da sociedade estavam corretos?

No dia 10 de julho iniciou-se o Seminário e, como temido, no dia 11 pela manhã, um dos seminaristas apresentou febre. No dia 12 foi examinado pelo médico e no dia 13 foi diagnosticado como infectado pela nova gripe. No mundo inteiro milhares de pessoas já haviam sido infectadas, mas em Jiba, era o primeiro caso da nova gripe.

Parece que os sintomas da gripe não são tão fortes, mas o poder de contágio é muito grande e as pessoas que tem contato próximo podem ser infectadas facilmente. Isolamos o primeiro paciente, mas o vírus já havia se espalhado. Ao todo, cinco pessoas foram infectadas, e outras 11 pessoas do mesmo grupo, mesmo não infectadas, tiveram que ser isoladas.

O alojamento também teve que ser mudado, pois havia a possibilidade de infectar outras pessoas que não eram seminaristas e que estivessem hospedadas no 38º Moya. Assim, nos mudamos para as salas de aula do Instituto de Línguas, onde não haveria influência a outras pessoas. Tivemos que voltar ao local normalmente usado todos os anos como alojamento. Isso foi feito mediante orientação médica. O programa do curso também teve que ser bastante alterado. Havíamos feito um programa um pouco mais leve tendo a nova gripe como desculpa, mas tivemos que reorganizar tudo com muito sacrifício.

Na Indicação Divina de julho de 1891, temos:

“Deus não faz passar pelos caminhos da preocupação. Dia a dia, a razão única da manhã. Depois, todos, individualmente, mesmo que pensem com o espírito individual, não irei. Tenham o espírito amplo e não se preocupem. Se começarem, é o mesmo de estarem abraçados dia a dia pelos pais. Se tiverem em mente este fato, não necessitam ter nenhuma preocupação.”

Será que nos preparativos e na realização do Seminário de Oyassato, estávamos com este espírito amplo e apoiados totalmente em Deus?

Os senhores aqui presentes, assim como eu, um dia se determinaram a seguir este Caminho como condutores de igreja. Ainda, foram orientados a esta fé como esposa de condutor, como condutor de casa de divulgação ou sua esposa. Acima de tudo, houve um dia que solicitaram o dom do Sazuke e se tornaram Yobokus. Algumas pessoas fizeram isso por vontade própria, mas outras, pelo fato de terem se casado com alguém que acabou se tornando condutor, vieram a ocupar a posição que hoje ocupam mesmo sem tê-la desejado.

Gostando ou não, todos nós “nos iniciamos” na fé deste Caminho. Ao nos iniciarmos, como estamos “firmemente abraçados pelo parens”, se tivermos ao menos o espírito amplo, não necessitamos nos preocupar com nada. Acreditamos nisso? A questão é se podemos crer cegamente nisso ou não.

Na Indicação Divina de 17 de maio de 1890, temos:

“Se tiver o espírito preocupado, a razão da preocupação circulará.”

Seja na igreja, na casa de divulgação ou no Dendotyo, todos nós fazemos diversos serviços ou dedicações a Deus. Trabalhamos para Deus. Existem algumas oportunidades em que as coisas ocorrem como esperado e outras em que isso não ocorre. Existem diversas situações: quando não podemos nos dedicar a Deus devido ao nosso emprego, quando temos alguma preocupação em nossa família, ou quando estamos enfermos. Nessas horas, ficamos inseguros, pensando o que ocorrerá no futuro, preocupando-nos por antecipação. Se nos preocuparmos, será que não teremos a concretização das circunstâncias com que nos preocupamos? “A razão da preocupação circulará” significa que Deus concederá a providência de acordo com a nossa preocupação.

No Ofudessaki, temos:

Quão difíceis pensem ser, não se preocupem, Tsukihi se encarregará. XII-71

O que quer que seja feito, não se preocupem. O Parens se encarregará de todas as coisas. XV-62

Se nos dedicarmos seriamente a serviço deste Caminho, não há motivo para preocupação, pois Deus se encarregará de tudo.

Qualquer coisa que façam, se estiverem amparados em Tsukihi, não haverá perigo. XI-38

O primeiro item que gostaria de solicitar hoje aos senhores é “livrar-se do espírito de preocupação antecipada e viver amparado em Deus”. Não se deixar levar pelo que diz ou faz a sociedade, pensando somente em fazer bem feito ou ter facilidades, mas sim, determinar o espírito de dedicação única a Deus.

Bem, em setembro do ano passado, tive a oportunidade de ir pela primeira vez na Igreja Congo-Brazavile, na África. No país do Congo, ainda são visíveis as consequências da guerra civil que durou muitos anos. Parece que só há dois ou três japoneses no país. Em meio a isso, uma senhora japonesa veio me procurar na Igreja Congo-Brazavile. Ela me disse: “Já faz 27 anos desde que vim para o Congo.” Perguntei: “Por que a senhora veio ao Congo?” Ela respondeu: “Porque fiz uma promessa a Deus.” Ela era uma irmã católica e continuou: “Ainda jovem, fiz três promessas a Deus na igreja católica de Kumamoto. A primeira era permanecer solteira pelo resto da vida. A segunda era viver em pobreza honesta. A terceira era ser submissa a Deus. Ao fazer essas três promessas, logo veio a ordem para que eu viesse à igreja do Congo. Desde então, vivo neste país.”

Fiquei admirado. Uma mulher sozinha, tendo como apoio apenas as promessas que fez a Deus, está a serviço de Deus por 27 anos num país onde não há japoneses e que viveu uma guerra civil por muito tempo.

É certo que eu também fiz uma promessa um dia. No dia em que recebi o dom do Sazuke e me tornei Yoboku, prometi que iria ministrar o Sazuke, que iria conduzir pessoas a Jiba e que iria me dedicar à salvação das pessoas.

Formalmente, me tornei condutor de igreja. Não estou ganhando dinheiro trabalhando num emprego. No entanto, será que estou vivendo todos os dias sem me esquecer daquele dia em que recebi o dom do Sazuke?

Acredito que tenho que viver todos os dias de modo a não ser deixado para trás por aquela irmã que encontrei no Congo.

A igreja onde sou condutor fica em Kyoto. Falando em Kyoto, os senhores logo imaginam “a antiga capital do Japão, uma bela cidade”. No entanto, minha igreja fica numa zona bastante rural. É uma casa no meio da montanha, que à noite fica no meio da escuridão. No verão aparecem muitas cobras, texugos e raposas. Ela fica no alto de uma montanha onde os carros não conseguiam subir antigamente. Por ser um local assim, quando eu era criança, não havia água encanada e quase não havia fiéis. O número de texugos e raposas era até maior.

Nasci como o primogênito de uma igreja assim. Tenho irmãs, mais velha e mais nova, mas sou o único filho homem. Desde criança, sempre me diziam: “No futuro, você vai ser o condutor da igreja”. Como falavam muito, ao contrário, sentia uma enorme pressão. Mesmo com espírito de criança, pude compreender o quanto de sacrifício meu pai, como condutor, e minha mãe, como sua esposa, estavam fazendo.

Na verdade, qualquer criança acredita que seus pais são excelentes, ou querem acreditar que eles são excelentes. Ainda, querem concretizar os desejos que os pais têm em relação a aos filhos.

Por exemplo, quando uma mãe pede para seu filho comprar alguma coisa no mercadinho. O filho, ao voltar do mercadinho com a compra, quer ver o rosto contente de sua mãe. Na verdade, não quer receber elogio ou ganhar um trocadinho. Ele fica feliz em ver os pais contentes.

Estou certo de que os senhores também, quando crianças, tinham este espírito puro. Será? (apesar de que hoje não podemos nem imaginar...)

“No futuro, você vai ser o condutor da igreja.” Quanto mais ouvia isso, mais ficava inseguro em relação ao meu futuro. Na igreja não temos uma situação econômica muito fácil e os espaços e as horas de privacidade são restritos (se durante o jantar algum fiel vier para consultar sobre algum assunto, somos colocados para fora e não conseguimos nem assistir televisão com liberdade). Antes de tudo, será que eu seria capaz de salvar uma pessoa e orientá-la no que se refere à fé? Poderia fazer qualquer tipo de sacrifício para essa finalidade? Pensando nisso, minha insegurança apenas aumentava. Quantas vezes não desejei que minha irmã mais velha tivesse nascido homem...

No entanto, por mais que solicitasse a Deus, minha irmã continuava mulher e não se tornou homem.

Ainda assim, o que me levou a crer neste ensinamento, a me decidir a suceder meu pai na igreja foi a imagem da fé passada de geração a geração, conforme vim ouvindo de meus pais; foi a imagem de meus pais se devotando à divulgação e à salvação.

Meu bisavô iniciou-se na fé em 1877. Desde então, pôde estar sempre ao lado de Oyassama, dedicou toda a a vida a serviço da Residência e fundou uma igreja. Ele se casou logo depois de ter se iniciado nesta fé, mas as crianças que nasciam, retornavam uma após outra. Mesmo vivendo unicamente dedicado à fé, está registrado que perdeu três filhos seguidamente. O único que sobreviveu foi o meu avô. Esse meu avô também tinha o corpo bastante frágil, e por diversas vezes, foram feitas consultas a Deus sobre a enfermidade da criança (nessa época ainda era possível consultar a intenção de Deus através das “Indicações Divinas”).

Apesar de fraco fisicamente, meu avô sobreviveu, sucedeu a fé de seus pais e se dedicou a serviço de Jiba. Meu avô teve dois filhos e quatro filhas, mas o primogênito retornou com 23 anos de idade.

Meu pai era o segundo filho, mas sucedeu meu avô, trabalhou a serviço de Jiba e se dedicou à divulgação. Eu fui o único filho homem que ele teve. Desde pequeno, sofro de uma doença crônica que é a asma. Dentro da família, não há ninguém que tenha esses mesmos sintomas. Somente eu era fraco assim. Existe um ditado antigo que diz: “pessoas bonitas têm vida curta”. É definido pelo povo que pessoas bonitas são mais frágeis. No entanto, ninguém da minha família morreu. Eu era fraco, mas ainda estou vivo.

Meu pai, mesmo quando eu estava acamado com asma, nunca teve uma preocupação especial comigo. Nem fez solicitações a Deus por mim. Por que será? Que frio, não?

Tenho três filhos. Não se pode dizer que são estudiosos, mas os três são bem saudáveis até hoje. Eu sou fraco, mas meus filhos são saudáveis. Ou eu sou saudável, mas meus filhos são fracos. Se tivessem que escolher, o que os senhores escolheriam? Pode ser que eu tenha sido fraco, mas só de não ver a imagem de meus filhos acamados, creio que sou bem mais afortunado do que meu pai. Meu pai pode ter se preocupado vendo o filho acamado, mas pelo menos não o viu retornar. Meu avô teve o nó de ver um filho de 23 anos retornar, mas não teve a tristeza de ver os filhos retornando ainda bebês, um após outro.

Com várias gerações seguindo a fé por mais de 100 anos, existem coisas que sabemos somente agora. Comparado a meu bisavô, o quanto estamos sendo agraciados pela excelente providência de Deus? Isso se deve ao fato de, mesmo recebendo diversos nós de Deus, os antepassados terem vivido unicamente dedicados ao Caminho.

Existem diversos fatos com que não podemos nos contentar momentaneamente, mas se dentro disso, pudermos estabelecer o espírito de “satisfação sincera”, seguindo por longo tempo, teremos com certeza o trabalho de Deus.

Na Indicação Divina de 13 de maio de 1890, temos:

“Existem muitas pessoas que pensam: mesmo dedicando tanto assim, mesmo crendo tanto assim... Assim não tem jeito. Não há sinceridade. Não pode ser aceito. Se pensar insatisfeito, tornar-se-á insatisfação. Não há outra forma de ser aceito que não a satisfação sincera. Havendo sinceridade é que se determinará o espírito de satisfação sincera. Assim, não há outra forma de ser aceito que não a satisfação sincera. A satisfação sincera é a sinceridade. A sinceridade é a razão do céu. Se for razão do céu, não existe coisa mais admirável do que a sinceridade. Compreendam bem esta razão.”

Ainda, na Indicação Divina de 16 de julho de 1896, temos:

“Não se pode pensar somente numa geração. A profunda razão segue. Oferende a satisfação sincera para todas as gerações. Por mais que tenha dedicado a razão, não se torna uma marca de nascença. Internamente, tenham satisfação sincera. Existem diversos caminhos dentro do Caminho. Também existem nós.”

Dentre os senhores aqui presentes hoje, pode haver quem não tenha herdado a fé dos pais e seja da primeira geração da fé. Entretanto, a maioria dos condutores de igrejas e casas de divulgação herdou a fé de seus pais.

Não é que tenha me tornado condutor obrigado, mas existem algumas oportunidades em que chego a pensar: “Apesar de estar me dedicando tanto, por que sofremos tanto assim?” “Por que as coisas não melhoram?”

Na verdade, se olharmos as coisas a longo prazo, estamos sendo protegidos e abraçados no colo de Deus. Afinal de contas, não tive que passar pela tristeza de ver três filhos retornando pequenos como o meu bisavô.

O segundo ponto que gostaria de solicitar aos senhores é que “não mudem o espírito determinado”.

Ultimamente, assim como no Brasil, no Japão passou a ser comum as pessoas pensarem que os pais são os pais e os filhos são os filhos. Assim, os pensamentos são diferentes e muitos acham natural não sucederem a fé dos pais. Será que os meus filhos também vão seguir esta fé na Tenrikyo? Será que vão suceder esta igreja? Às vezes fico inseguro a esse respeito. Entretanto, talvez não seja por causa do tempo ou das tendências da sociedade, mas sim devido a meu comportamento no dia a dia ao me relacionar com meus filhos.

Atualmente tenho 53 anos e até esta idade, vim ouvindo de meus pais, aprendendo e praticando os ensinamentos de Oyassama. Até certo ponto, essas coisas se tornaram naturais para mim. Por exemplo, digamos que meu nível de fé seja o nível 5 (embora não exista níveis na fé). Este nível 5 foi conseguido durante os 53 anos de vida. Penso em tudo no nível 5. Cobro dos meus filhos também o nível 5. No entanto, meus filhos iniciaram no nível 0. Se eu não tiver a consciência de que eu estou no nível 5 e os filhos estão no nível 0, poderá ser trágico. Temos que nos conscientizar de que o que é natural para os pais, pode não ser natural para os filhos. Os filhos, do ponto de vista da fé, são principiantes. Não se pode falar coisas como: “você é um filho da Tenrikyo, por isso...” ou “mesmo que não entenda, tem que fazer”.

Na Indicação Divina de 29 de novembro de 1889, temos:

“A origem é o Parens. A razão do Parens, se educar com a razão do afeto, em qualquer lugar se educará. Para educar tornando-se pais, devem educar com a razão do afeto.”

Primeiramente, será que estamos nos relacionando com nossos filhos, com os fiéis de nossa igreja com o espírito afetivo?

Na Indicação Divina de 23 de março de 1891, temos:

“...em qualquer coisa, se educar, será educado, se não educar, não se educará... Dizem que este Caminho, quanto mais se expande, mais difícil fica. Não é difícil. A razão do espírito é que é difícil.”

Educar os sucessores é o mesmo que educar os fiéis. Será que mesmo achando difícil para si, não estamos cobrando coisas difíceis dos outros? Será que estamos mostrando a imagem repleta de alegria a nossos filhos? Falando mais a fundo, será que estamos mostrando a nossos filhos a alegria de podermos ajudar as pessoas através da salvação?

Quando tinha 35 ou 36 anos, meu pai me perguntou: “Você tem a certeza de que quer me suceder como condutor desta igreja?”

Era uma conversa estranha. Desde pequeno, ficavam repetindo: “você vai ser o condutor da igreja”. Por causa disso, vim me privando de certas coisas que gostaria de ter feito. Até no que se refere à vida amorosa, houve um tempo em que me impunha limites. Principalmente porque a minha noiva teria que se tornar esposa de condutor e, tanto economicamente como no aspecto da privacidade, haveria um sacrifício maior do que as pessoas em geral. Sempre pensava que teria que procurar alguém que ficasse junto comigo na igreja mesmo que tivesse que passar por esses sacrifícios. Ficava impondo limites a mim mesmo. Pensando agora, não pude aproveitar muito bem minha juventude.

Perguntar agora se “vou me tornar condutor?” é fora de propósito. Isso é o que se passava dentro do meu espírito: “O senhor não veio me repetindo tantas vezes que eu deveria me tornar condutor, que eu seria o condutor? O que é que está falando agora? Quem, fora eu, vai querer suceder uma igreja caindo aos pedaços e no meio da montanha como esta? Só penso em suceder esta igreja porque sou seu filho.” Mesmo pensando isso, não soltei isso da minha boca. Afinal de contas, era um bom filho... Da boca para fora, olhei para meu pai e disse: “Sucederei. Vou me dedicar firmemente.” Era a resposta perfeita.

Nessa época, meu pai estava na igreja somente na época das cerimônias mensais. Normalmente ele estava sempre prestando serviço a Jiba. Eu é que fazia os trabalhos da igreja. Ouvindo que “vou me dedicar firmemente”, meu pai voltou para Jiba.

Nessa mesma noite, estava andando de moto quando fui atingido por um carro que surgiu de repente pela lateral, fui arremessado a cerca de seis metros de distância e perdi a consciência. Era uma rua em que não passa muita gente, mas uma senhora que passava por acaso e me viu desacordado, me perguntou: “Moço, você está bem?” Acordei com essa voz e disse: “Estou bem”. Ouvindo isso, a senhora disse: “Ah, é? Tome cuidado, hein?” E foi embora.

Como meu corpo não se mexia, fiquei ali deitado na rua quando veio a ambulância e fui levado ao hospital. Na maca do hospital, me deram alguns pontos na perna. O médico disse: “Como é tarde da noite, vamos deixar os exames para amanhã de manhã. Vou dar uns pontos nesta ferida agora. Como é urgente, vai ser sem anestesia”. Que coisa, não? Ele começou a dar os pontos sem anestesia, mas não sentia dor alguma. O local estava adormecido devido ao choque com o carro e não sentia nenhuma dor.

Nessa noite, na cama do hospital, pela primeira vez me perguntei: “o que Deus está querendo me ensinar?”

Qualquer que seja o trabalho, não se pode aceitar um trabalho de Deus com espírito frouxo. Ainda mais, o cargo de condutor é algo que temos que solicitar expressando: “Deixe-me ser condutor”. No entanto, com espírito soberbo, fiquei pensando: “Se não for eu, quem é que vai aceitar? Mesmo não querendo, eu é que vou suceder.”

É dito que o trabalho de Deus é o “trabalho da razão”. Creio que significa que a “razão” é o “pensamento de Deus-Parens”. É primordial aceitar o pensamento de Deus dando-lhe a devida importância.

Na Indicação Divina de 3 de novembro de 1899, temos:

“Não importa que sacrifique a própria vida. Se trabalhar com o espírito disposto sacrificar a vida, Deus trabalhará. Concedo esta razão à razão única do espírito.”

Ensina que qualquer que seja o trabalho de Deus, é importante que aceite e se dedique com disposição até para sacrificar a vida por isso.

O terceira ponto que gostaria de solicitar aos senhores é “aceitar a razão com o devido peso”.

Já citei diversas vezes, mas minha igreja fica no alto de uma montanha. Os fiéis sobem a montanha, fazem a “oferenda”, fazem o “Hinokishin”, executam o “Serviço sagrado” e vão embora. Ainda por cima, antes de ir embora, me agradecem dizendo: “Muito obrigado, condutor!” As coisas numa igreja da Tenrikyo são ao contrário da sociedade, não é mesmo?

Quem fez a “oferenda” foram os fiéis. Quem fez o “Hinokishin” e executou o “Serviço sagrado” também foram os fiéis. Quem deveria agradecer era eu. No entanto, os fiéis é que me agradecem. Como é gratificante!

Por isso, quando os fiéis vão embora, agito as mãos de cima da montanha, gritando: “Obrigado!” É maravilhoso ver que quando eu agito as mãos, todos agitam as mãos para mim também. Acredito que o importante é o sentimento dessas pessoas quando chegam às suas casas.

Acredito que existe uma grande diferença entre pensar: “Quando vou à igreja, o condutor fica contente daquele jeito.” Ou pensar: “O condutor só nos prega sermões”.

Havia um diretor na igreja, já falecido, que iniciou-se na fé após ser salvo de câncer no estômago aos 50 anos. Como foi salvo de câncer, tinha uma fé bastante fervorosa. Seu filho, forçado pelo pai, ouviu as palestras do Besseki, recebeu o dom do Sazuke e se tornou Yoboku, mas não vinha à igreja. Era uma pessoa meio excêntrica. Depois que o pai retornou, disse a ele: “Venha à igreja você também. Seu pai foi salvo de câncer”. Por mais que falasse, ele não vinha. Ao invés disso, ele dizia aos fiéis que encontrava: “Indo àquele lugar, só terá prejuízo. Deveria parar de ir lá.”

Minha mãe, desde que me tornei o condutor da igreja, passou a viver em Jiba. Quando regressava a Jiba e me encontrava com ela, ela sempre perguntava sobre os fiéis: “Como está fulano?” “E sicrano, está bem?” Assim, ela perguntava também sobre aquela pessoa excêntrica: “Como está filho do Sr. Hashimoto?”

Sempre que ela perguntava, eu respondia: “Aquela pessoa não tem jeito. O pai foi salvo, mas ele não sente nenhuma gratidão. Não tem jeito.”

Certa vez, minha mãe me disse: “É, realmente não tem jeito, assim não pode ficar.”

Eu respondi: “Não é verdade? Aquela pessoa não tem jeito, não é?”

Minha mãe replicou: “Quem não tem jeito é você.”

Por que eu é que não tinha jeito? Por mais excêntrico que fosse, sempre ia à casa dele e lhe dizia: “Não pode se esquecer de retribuir a Deus. Venha à igreja.” Estava cumprindo meu papel como condutor, mas não conseguia entender aquela pessoa.

No entanto, minha mãe disse: “Você já agradeceu a ele pelos esforços prestados pelo pai dele? Alguma vez você já agradeceu a ele pelo fato de o pai dele, apesar de já ter retornado, ter se dedicado tanto e tão firmemente aos serviços da igreja durante sua vida?”

Depois disso, durante um ano, sempre que ia à casa dele, somente agradecia.

Assim, certo dia, ele veio repentinamente à igreja. Era véspera da cerimônia mensal. Ele apareceu em meio a muitas pessoas que ajudavam nos preparativos da cerimônia mensal e perguntou: “o que meu pai fazia na igreja?” Respondi: “ele fazia o que as pessoas estão fazendo hoje aqui.” Ele perguntou: “posso fazer também?” Respondi: “Por favor”. E ele nos ajudou. Ele nunca havia entrado no recinto de reverência.

Na hora de ir embora, mostrei-lhe o otsutomegui que seu pai usava e um livro de treinamento de narimono. Ele disse que via aquilo pela primeira vez.

No dia seguinte, veio desde manhã para a cerimônia mensal e me perguntou: “posso usar aquela roupa preta que meu pai usava?” Tendo em vista que já era Yoboku, respondi que sim e, ajudado por outras pessoas, colocou o otsutomegui.

No entanto, por ser a primeira vez que veio na cerimônia mensal, ele não sabia desempenhar nenhum papel na cerimônia. Ele ficou sentado no recinto de reverência, mas assim que terminou o Serviço sentado, ele me disse que queria fazer alguma coisa. Mesmo tendo vontade, ele não sabia fazer nada. Coloquei outra mesinha ao lado do Jikata e pedi para ele sentar ali. Como ele não sabia nem cantar os hinos sagrados, disse a ele: “Não solte a voz, fique apenas abrindo e fechando a boca.” Ao término da primeira parte, ele disse que sairia também na segunda parte. No final, ele ficou a primeira e a segunda parte, abrindo e fechando a boca por aproximadamente uma hora.

Desde então, ele não faltou nenhuma vez, tanto no Hinokishin do dia anterior quanto na cerimônia mensal. Começou a trazer a esposa também. Quando trouxe a esposa pela primeira vez, ele disse a ela: “como você não sabe nada ainda, fique ali atrás observando atentamente.” Apesar de que mesmo ele ainda só abria e fechava a boca...

Pode ser que neste Caminho, seja melhor agir de forma contrária ao senso comum da sociedade...

Na revista “Miti no Tomo” de 1919, existe o seguinte artigo, escrito por um mestre que viveu junto a Oyassama:

“Certa vez, estando junto a Oyassama, notei que um dos dedões de Oyassama, não me recordo bem de que lado, estava torto. Quando lhe perguntei o motivo, ela disse: ‘me machuquei na delegacia, quando fui pendurada pelos dois dedões amarrados um ao outro’”.

Os sacrifícios de Oyassama na delegacia de polícia foram 17 ou 18, segundo relatos. Quais os delitos cometidos por Oyassama? Ela distribuiu os bens da família Nakayama, salvou as pessoas a partir da mais profunda pobreza, ensinou o Serviço sagrado às pessoas salvas por ela e que vieram a segui-la, ensinando-lhes o Caminho da salvação do mundo. Ela se submeteu aos sacrifícios por ter executado o Serviço sagrado, ensinado com o objetivo da salvação universal.

Ao ler a Minuta da Vida de Oyassama, podemos conhecer bem as circunstâncias do Serviço realizado naquele dia 26 de janeiro de 1887.

Quando o estado de saúde de Oyassama se tornou crítico, o primeiro Shimbashira disse: “Que fiquem para executar o Serviço somente aqueles com o espírito disposto a sacrificar a própria vida ao desempenhá-lo.” As pessoas devem ter executado o Serviço com a disposição de que, se fossem pegos dessa vez, talvez nunca mais pudessem regressar a Yamato. Lendo a Vida de Oyassama, percebemos que o pessoal do Serviço ainda não estava completo. No entanto, está escrito que Oyassama ouvia o som do Serviço satisfeita. Como estava satisfeita se o pessoal do Serviço não estava completo?

Oyassama com certeza salvou muitas pessoas. Como poderia, então, o Serviço, considerado a compilação de todo o caminho da vida-modelo de Oyassama, estar com o pessoal incompleto?

Com o que Oyassama teria ficado satisfeita?

Creio que ela ficou satisfeita e aceitou o espírito disposto a executar o Serviço a todo custo, houvesse o que houvesse, de qualquer forma.

Trata-se do Serviço instado por Oyassama mesmo que para isso tivesse que colocar enfermidades no seu próprio corpo. O Serviço é a vida da Tenrikyo.

Com certeza, existe uma diferença de língua entre o Brasil e o Japão, existem dificuldades diferentes. Mesmo diante delas, o desejo de executar o Serviço, tomando o espírito de Oyassama em relação ao Serviço como o seu próprio espírito, é que faz o caminho se expandir.

O formato pode ser o Serviço sagrado em português, que transmita o espírito original de Oyassama ao ensiná-lo. Apesar de não sabermos como ficará daqui em diante, para que esse dia possa chegar no futuro, creio que é muito grande a responsabilidade que foi concedida por Deus aos senhores.

No Ofudessaki, Parte VI, verso 14, temos:

Numerosas pessoas vivem no mundo inteiro. O íntimo de todos é tal como a névoa.

Atualmente, existem mais de seis bilhões e meio de pessoas vivendo no mundo. O espírito dessas pessoas é como uma névoa e elas estão vivendo com o espírito que não enxerga bem nem um palmo à frente. É como estamos atualmente.

Em seguida, na Parte VI, verso 15, temos:

Dia a dia, purificando e compreendendo o íntimo dos corações, começará a avistar conforme a evolução.

Apesar de ter o espírito como uma névoa, se passarem por este Caminho dia a dia com uma firme fé, o espírito irá se purificando e poderemos evoluir espiritualmente. Se conseguirmos evoluir espiritualmente, poderemos compreender o espírito de Deus-Parens.

Na Indicação Divina de 31 de agosto de 1888, temos:

“Trabalhe com afinco determinando a razão, com a razão da determinação. O trabalho é primordial, o trabalho pessoal. Determinando este espírito, não haverá nada perigoso. O trabalho do espírito, o serviço pessoal. Em qualquer tempo, venha conduzindo.”

É importante que trabalhe determinando firmemente o espírito que corresponde a Deus-Parens. Se executarem o Serviço determinando firmemente o espírito, não haverá nada perigoso.

Pensando no dia em que o nome divino de Tenri-Ô-no-Mikoto seja entoado em todos os cantos do Brasil, solicito a todos que executem o Serviço sagrado em todas as igrejas seriamente, empenhando a própria vida.

Assim encerro a minha palestra de hoje. Muito obrigado!